Foi no Rio Grande do Sul que os proprietários de pequenas vinícolas brasileiras conseguiram o que parecia impossível: criar a primeira denominação geográfica de origem para os vinhos finos que estavam sendo produzidos por eles em Pinto Bandeira, uma região bastante especial da Serra Gaúcha.

Entre eles, a vinícola Cave Geisse tem chamado a atenção de profissionais do mercado internacional de vinho. Seus espumantes feitos de Chardonnay e Pinot Noir conquistaram o paladar estrangeiro pela elegância e sofisticação, frutos dos cuidados dedicados pela família Geisse aos seus vinhedos e às uvas cultivadas, de excepcional qualidade .

O Brasil ainda está engatinhando no processo de encontrar os melhores terroirs e fazer vinhos premium que expressem suas características únicas e especiais. No entanto, podemos dizer que a Família Geisse já faz parte da elite dos vinhos brasileiros.

Conheça a história da vinícola familiar que encontrou em Bento Gonçalves o local ideal para a produção dos seus premiadíssimos espumantes.

A vinícola Cave Geisse

A história da Cave Geisse começou com a chegada do engenheiro agrônomo e enólogo chileno Mario Geisse em terras brasileiras, para dirigir a divisão nacional da Moët & Chandon. Geisse percebeu logo de cara que o Brasil possuía um grande potencial para a produção de vinhos espumantes.

E encontrou em Pinto Bandeira, distrito ao norte no município de Bento Gonçalves, as características ideais para fundar em 1979 seu empreendimento pessoal: a vinícola Cave Geisse. Mario utilizaria a uva própria para produção de vinho, a Vinis vinífera, uma espécie que precisa de cuidados especiais para produzir bons frutos, em oposição à uva de mesa plantada na região. O enólogo decidiu, então, utilizar uma técnica de cultivo muito comum no exterior: a espaldeira.

Diferentemente do método mais utilizado o Brasil à época, o latada, que favorece a produtividade em detrimento da qualidade, com a espaldeira poucas uvas são produzidas, mas muito concentradas.

Além do sistema de condução da videira, Geisse trouxe a artesanal técnica de produção de borbulhas, o método tradicional. Conhecido como Champenoise, ele é utilizado até hoje na região francesa de Champagne para a produção de seus famosos espumantes.

Mas não é só a tradição que marca o sucesso da Cave Geisse. Os vinhedos da vinícola são conduzidos de maneira sustentável, a colheita é manual e a terra não é tratada com nenhum tipo de produto químico. O controle de pragas é feito pela moderníssima Thermal Pest Control (TPC), uma máquina que lança um jato de ar a 130ºC e com velocidade de 200 km/h, que fortalece as defesas naturais da planta.

Pinto Bandeira

A região, conhecida como Vinhos da Montanha, possui uma excelente altitude (cerca 800 metros), solos pobres e com excelente drenagem, ventos constantes, boa amplitude térmica e ótima exposição solar ideal.

Essas características foram consideradas por Geisse como indicações de algo que poderia ser um fantástico terroir. O solo basáltico da propriedade é composto por camadas de argila e rochas de origem vulcânica em decomposição, uma confluência de características que tornam o terreno único em todo o mundo.

Para se ter uma ideia do estudo que foi feito para escolher onde começar a plantar os primeiros vinhedos, dos 72 hectares totais apenas 24 – os melhores – são plantados. Além disso, as únicas duas castas utilizadas na produção dos seus espumantes são cultivadas na própria vinícola, as francesas Chardonnay e Pinot Noir.

O primeiro “DOC” brasileiro

Não foi só Geisse que percebeu que a região de Pinto Bandeira produz vinhos excepcionais.

Em 2001, os produtores da região se reuniram e fundaram a Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira, a Asprovinho. Seu objetivo era desenvolver as condições necessárias para formar a primeira indicação geográfica de vinhos finos no Brasil, na região de Pinto Bandeira.

Em 2010, o projeto, apoiado por outras importantes organizações, como a Embrapa Uva e Vinho, a Embrapa Clima Temperado, a Universidade de Caxias do Sul e a Universidade Federal do Rio Grand do Sul, foi implementado com sucesso: a delimitação geográfica foi oficialmente reconhecida e o Conselho Regulador do IP (Indicação de Procedência) foi fundado.

Cave Geisse, uma vinícola boutique

A Cave Geisse é considerada uma das poucas vinícolas boutiques brasileiras, responsável por vinhos exclusivo e de altíssima qualidade, com todos os processos de vinificação sendo acompanhados de perto para a produção de um vinho premium.

As vinícolas boutique são conhecidas pelo difícil acesso aos seus produtos, já que você não vai encontrá-los nas prateleiras de um supermercado ou em qualquer distribuidora de bebidas.

Vinícola boutique também tende a produzir vinhos complexos e, por isso, procura inovar, testar novas castas e formas de cultivo, em oposição às técnicas tradicionais de suas regiões. Uma pequena propriedade que utiliza de trabalho familiar. Seu objetivo é mostrar a máxima expressão do terroir em que se encontra.

Reconhecimento internacional

Em seus 37 anos de existência, a Cave Geisse já chamou a atenção de experts do mercado do vinho.

Ainda em 1998, a Master of Wine Jancis Robinson inclui a Geisse em sua lista das 10 vinícolas que seriam o futuro do vinho – e eles foram o único produtor de espumantes da seleção apresentada.

Hoje, exatos 18 anos depois, podemos confirmar que a vinícola está colocando o Brasil como referência entre os produtores de espumantes do mundo.

Em 2014, a Cave Geisse foi nomeada para o Wine Star Award 2014, da Wine Enthusiast, na categoria New World Winery (vinícolas do Novo Mundo).

O rótulo Cave Geisse Terroir Nature foi único espumante sul-americano a entrar no livro “1001 Vinhos para se beber antes de morrer”, e também conquistou o título do melhor espumante do Guia Descorchados 2015 com 93 pontos!

Créditos: Blog da Gran Cru 

Keith Bugs
Keith Bugs
Coord. de Eventos da JMatos Bebidas. Criativa, inquieta, contestadora, aficionada pelo glamouroso mundo dos espumantes. Atua 10 anos no mercado de bebidas e eventos, possui certificação WSET nível 2 e planeja se especializar em "Biodinâmicos" em um futuro próximo.

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